7.2.07

Cocha, para os íntimos

Já no avião, o piloto avisou: 40 graus em Cochabamba, e um céu de dar inveja a Curitiba. Claro que meu amigo niño berrou para comemorar. Descobri mais tarde que ela é conhecida por ciudad de la primavera eterna. Título justo.
    Peguei o táxi no aeroporto e fui direto para um hostal que tinha escolhido no guia da Folha. A escolha foi aleatória, mas não poderia ter sido melhor. Quarto limpo e muito barato - o equivalente a uns 4 dólares. Aliás, tudo aqui é barato. Muito barato mesmo.
     A cidade é... como explicar? Sabe aquelas partes do centro velho que voce nem gosta de passar porque é perigoso, com ruinhas estreitas e muita gente suspeita? Pois é. Agora coloquem mais um monte de carros, um monte mesmo, todos buzinando ao mesmo tempo e nenhum respeitando nenhuma lei de trânsito. Multiplique por cinco e isso é o centro de Cochabamba.
     O povo é muito simpático - mais uma coisa de fazer inveja a Curitiba. É incrível como você olha para uma pessoa na rua e ela te sorri e cumprimenta. Nos locais em que entrei, todos fizeram o possível para entender meu espanhol. Fica aqui até uma dica: abre portas entrar num lugar e pedir na língua deles, pagar com dinheiro deles. Mesmo que você fale errado, as pessoas entendem e ficam felizes em ver seu esforço de ser como elas, e te tratam mil vezes melhor.
     Mas, se por um lado, eles sao simpáticos, por outro são meio boca-suja. Bocas que minha mãe lavaria todas com sabão. O que se ouve de carajo, mierda e putamierda não está no gibi. Mas é só stress de trânsito. Que é, diga-se de passagem, simplesmente caótico. Primeiro que nunca eu vi tanta Pajero na vida - aliás, Montero, o nome é diferente porque pajero aqui é palavrão, não que isso fizesse muita diferença. Depois que os ônibus sao um capítulo à parte. São quase todos daqueles ônibus escolares americanos amarelos sucateados. Só que não são amarelos, são verdes, brancos, vermelhos, azuis e amarelos. Tudo junto, em padrões meio psicodélicos. Foram ótimas as lições que eu tomei com meu grande amigo De Niro, atravessar a rua aqui é sempre uma aventura. Eu me senti a própria Mulata Globeleza com um monte de carros buzinando para mim.
     Voltando ao povo, eles são ótimos. É fácil ver que hay dos tipos de cochabambinos: os bolivianos, digamos, e o aymarás, descendentes de índios. As mulheres aymará sao facílimas de indentificar: usam umas saias que o pessoal da Máfia já conhece - piadinha interna -, chapéu coco no alto da cabeça e sempre carregam um tipo de um xale colorido nas costas. Dentro dos xales, que viram umas mochilinhas, vai de tudo, desde roupas e comida até crianças. Muito prático, só não comprei um para mim porque nao descobri como se amarra. Já os homens aymará são todos iguais ao presidente Evo. E o resto dos bolivianos são exatamente iguais aos brasileiros. Teve horas que me senti andando no centro de São Paulo. Até emo eu vi aqui!
     Fora isso, em Cocha - já virei íntimo - não há muito o que ver. A plaza principal é muito bonita, mas uma volta já basta. Tinha um pessoal acampado lá, da reforma agrária, com ovelhas, galinhas e tudo, e eu não quis tirar muitas fotos para não atrair olhares furiosos e acabar virando refém de campesinos revoltados. Consegui entrar na catedral e me emocionei, é linda, "riquisima" como se diz aqui. Andando um pouco mais, chega-se a um parque, mas nada espetacular. Há outros lugares, como o Cristo da Concordia e o Monumiento a las heroinas, mas acabei não vendo nenhum dos dois. O dono do hostal me disse que es peligroso, ainda mais sozinho. Cara muito gente fina, aliás, me deu várias dicas de como sobreviver na Bolívia.
     Nao senti efeito nenhum do soroche, o mal de altitude. Tirando que passei o dia inteiro sem nenhum apetite. Comi só um pão com zumo de naranja, meio empurrado. Bom, porque assim eu economizo um pouco. Aliás, comer aqui é complicado. Não encontrei nada parecido com a concepção de mercado que nos temos no Brasil. E sabe aqueles botecos imundos que sua mãe ensinou que não servem nem para tomar um copo de água? Pois é, 95% dos lugares aqui são assim. E olha que quem me conhece sabe que eu nao sou lá muito exigente com isso...

* * *

Acordei no meio da noite com trovões. Choveu pra dedéu. Quando dormi de novo, acordei com a campainha do hostal e alguém batendo na porta. Se bem que "batendo" é eufemismo meu, o cara quase trouxe o lugar abaixo. Olhei no relógio - meu celular só serve pra relógio - e eram cinco para as seis da manhã. O pessoal acorda cedo por aqui.
     Tomei meu desayuno e me mandei para a rodoviária para ir para La Paz. Tempinho feio. Mas isso é o próximo capítulo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas dizem que as moças de saia vendem uns bolinhos que é uma loucura...

Se acaso você vir o Evo tira uma foto dele para mim.... póde ser de um generico desses que eu sou bobo e acredito quer es el presidente...

Se cuida

Diego disse...

:D

Viu como atravessar a rua é uma arte? E os onibus coloridões? Que tal??

Continue assim, filho.

Se cuide .

Anônimo disse...

Rapaz, mas a aventura já começou cheia de animação e, principalmente, com um regime daqueles hein! Acho que vou fazer uma viagem igual a essas pra ver se perco alguns quilos... hehehe Não tem nenhum good-good aí pra matar a saudade???